terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Anjo

O menino voltou-se para a mãe e perguntou: - Os anjos existem mesmo? Eu nunca vi nenhum.

Como ela lhe afirmasse a existência deles, o pequeno disse que iria andar pelas estradas, até encontrar um anjo.

- É uma boa idéia, falou a mãe.

Irei com você. -

Mas você anda muito devagar, argumentou o garoto. Você tem um pé aleijado.

A mãe insistiu que o acompanharia. Afinal, ela podia andar muito mais depressa do que ele pensava.

Lá se foram.

O menino saltitando e correndo e a mãe mancando, seguindo atrás.

De repente, uma carruagem apareceu na estrada.

Majestosa, puxada por lindos cavalos brancos. Dentro dela, uma dama linda, envolta em veludos e sedas, com plumas brancas nos cabelos escuros.

As jóias eram tão brilhantes que pareciam pequenos sóis. Ele correu ao lado da carruagem e perguntou à senhora:

- Você é um anjo? Ela nem respondeu. Resmungou alguma coisa ao cocheiro que chicoteou os cavalos e a carruagem sumiu na poeira da estrada.

Os olhos e a boca do menino ficaram cheios de poeira. Ele esfregou os olhos e tossiu bastante.

Então, chegou sua mãe que limpou toda a poeira, com seu avental de algodão azul.

- Ela não era um anjo, não é, mamãe? -

Com certeza, não.

Mas um dia poderá se tornar um, respondeu a mãe.

Mais adiante uma jovem belíssima, em um vestido branco, encontrou o menino. Seus olhos eram estrelas azuis e ele lhe perguntou:

- Você é um anjo? Ela ergueu o pequeno em seus braços e falou feliz: - Uma pessoa me disse ontem à noite que eu era um anjo. Enquanto acariciava o menino e o beijava, ela viu seu namorado chegando. Mais do que depressa, colocou o garoto no chão.

Tudo foi tão rápido que ele não conseguiu se firmar bem nos pés e caiu. - Olhe como você sujou meu vestido branco, seu monstrinho! - Disse ela, enquanto corria ao encontro do seu amado.

O menino ficou no chão, chorando, até que chegou sua mãe e lhe enxugou as lágrimas com seu avental de algodão azul. -

Aquela moça, certamente, não era um anjo.

O garoto abraçou o pescoço da mãe e disse estar cansado.

- Você me carrega?

- É claro - disse a mãe

- Foi para isso que eu vim.

Com o precioso fardo nos braços, a mãe foi mancando pelo caminho, cantando a música que ele mais gostava.

Então o menino a abraçou com força e lhe perguntou:

- Mãe, você não é um anjo?

A mãe sorriu e falou mansinho:

- Imagine, nenhum anjo usaria um avental de algodão azul como o meu.

Anjos são todos os que na Terra se tornam guardiões dos seus amores. São mães, pais, filhos, irmãos e amigos que renunciam a si próprios, à suas vidas em benefício dos que amam.

As mães, sobretudo, prosseguem a se doar e velar por seus filhos, mesmo além da fronteira da morte, transformando-se em protetoras daqueles que na terra ficaram, como pedaços de seu próprio coração

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